Expectativas
A inserção da Equipe Multiprofissional (eMulti) na Atenção Primária à Saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS) trouxe consigo grandes expectativas por parte dos diversos atores envolvidos. No entanto, essas expectativas estão diretamente ligadas aos desafios que cada grupo enfrenta, o que torna sua realização complexa.
Para os gestores, a expectativa é otimizar os recursos e melhorar os indicadores de saúde, ampliando o acesso a serviços especializados. Entretanto, o desafio de coordenar equipes multidisciplinares pode comprometer essa visão, uma vez que a integração efetiva entre profissionais de diferentes áreas demanda habilidades gerenciais específicas e uma articulação cuidadosa. A expectativa de que a eMulti funcione como uma ferramenta de gestão eficiente enfrenta a realidade de que a integração entre setores pode gerar tensões, o que exige estratégias bem planejadas.
Os profissionais da eMulti, por sua vez, esperam poder trabalhar de maneira colaborativa e integrada, potencializando suas formações diversas para oferecer um cuidado mais abrangente. No entanto, o desafio de concretizar essa integração é constante. A diversidade de formações e experiências pode dificultar o trabalho em equipe, criando barreiras à cooperação que precisam ser superadas com a construção de um ambiente colaborativo e contínua capacitação.
Para os demais profissionais da APS, a expectativa é que a presença da eMulti traga um suporte especializado que complemente suas atuações. Contudo, o desafio de integrar esses profissionais em equipes multidisciplinares não é trivial. A articulação entre os diferentes níveis de atenção e os setores da saúde pública precisa ser aprimorada para que a continuidade do cuidado seja garantida. A falta de comunicação eficiente entre as equipes pode frustrar as expectativas de um cuidado mais coordenado e eficiente.
Na Rede de Atenção à Saúde (RAS), a eMulti é vista como uma facilitadora da comunicação entre os diferentes níveis de atenção, com o objetivo de melhorar o fluxo de pacientes e a continuidade do cuidado. No entanto, a expectativa de uma articulação eficaz entre a APS e a RAS enfrenta o desafio de uma comunicação ainda fragmentada, o que pode comprometer a efetividade desse modelo integrado.
Para a população, as expectativas são altas: espera-se um atendimento mais especializado e abrangente, capaz de atender às diversas necessidades de saúde. Entretanto, a experiência dos usuários com o sistema de saúde nem sempre corresponde a essas expectativas. Desigualdades no acesso e na qualidade dos serviços prestados refletem as dificuldades estruturais do SUS, e a percepção dos benefícios da eMulti varia conforme a realidade local.
Em resumo, as expectativas de cada grupo estão intimamente relacionadas aos desafios que precisam ser enfrentados para que o modelo da eMulti alcance seu pleno potencial. A tensão entre a necessidade de otimização de recursos e as condições necessárias para a efetiva integração das equipes exemplifica o embate que muitas vezes se apresenta. O sucesso desse modelo depende da superação de desafios como a expansão da cobertura, a adaptação às necessidades locais e o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), como a telemedicina e a inteligência artificial, para melhorar a comunicação e o monitoramento dos resultados.
Com uma gestão eficiente, qualificação contínua dos profissionais e envolvimento ativo da população, a eMulti tem o potencial de melhorar a qualidade e o acesso aos serviços de saúde, transformando as expectativas em realidade.